Quando atravessei a revolução do 25 de Abril de 1974, eu tinha 12 anos. Era uma adolescente revoltada que tinha toda a esperança nessa revolução para que me trouxesse a liberdade que tanto esperava. Era uma menina um tanto pouco baixa, magra, mas com um olhar gélido e, por isso, na minha cabeça, era capaz de fazer aquela revolução sozinha.

Mas, no dia certo, quando ouvi o alarido que surgiu à frente da minha varanda, corri para ela com esperança que fosse uma revolução que acabasse com todas as injustiças que até à data tinha, e tínhamos, vivido. E, para meu espanto, era a grande revolução do 25 de Abril, com cravos nas espingardas dos soldados.

Não tive receio nem medo de continuar na varanda, segundos seguidos, a espera de ver o que iria acontecer, apesar da insistência da minha querida e já falecida mãe que teimava em chamar-me para dentro e gritava dizendo “sai da varanda. Não tens idade para ver o que vai acontecer”, porque, na realidade nem ela sabia o que ia acontecer. Mas eu não saí. Nem sairia. Estava absolutamente fascinada a ver e para saber o que aquilo ia dar. E hoje, relato, o que vi com os meus próprios olhos.

O 25 de Abril devolveu-me o sorriso que era já transparente depois de 12 anos de vida insatisfeita e prisioneira do tão destemido Salazar que nos obrigava a ler o que achava que iriamos implementar num estudo contínuo que tínhamos na escola.

Na rua via imensos soldados carregados com as suas espingardas com cravos que uma senhora desejou espalhar por cada um. Estava uma vista absolutamente maravilhosa, e eu, sem saber que aquilo se iria passar estava deslumbrada com tanto medo e tanta paz futura que sentia naquela rua.

A verdade é que não ouvi o primeiro sinal secreto do movimento das forças armadas, mas o segundo … ai o segundo aviso eu ouvi. Começou com a canção Grândola Vila Morena, e tantos anos depois não me lembro da hora certa.

Hoje, a minha filha mais nova ajuda-me a escrever nestas modernices para que saibam a memória que tenho da revolução e o orgulho enorme com que assisti aquela harmonia toda.

 

INFORMAÇÃO ADICIONAL

Autor - Relator: Isabel de Fátima Resende e Cláudia Fulgêncio; Filipe Guimarães da Silva
Testemunha - Contador: Isabel de Fátima Resende
Ocupação à época: Estudante

Região: Lisboa

Data do início da história: 25 de Abril de 1974
Data do fim da história: 25 de Abril de 1974


DIREITOS E DIVULGAÇÃO

Entidade detentora de direitos: Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos: Todos os direitos reservados

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