À medida que o Outono de 1975 avança, mais se acentua a ideia de que se aproxima a hora da decisão. O mês de Outubro é um tempo de golpes anunciados, em que a comunicação social, manejada pelas fações em presença, assume importância crescente, preparando o país para a inevitabilidade de um confronto militar.

Quando novembro chega, a sociedade portuguesa está no limite do seu equilíbrio, aguardando, a todo o momento, um desenlace para as tensões a que está submetida.

De facto, ao longo de todo o mês, o país assiste a uma sucessão de episódios de crescente tensão, num clima de verdadeira psicose golpista:

– A destruição dos emissores da Rádio Renascença no dia 7, missão atribuída às tropas paraquedistas, que mais uma vez se sentiram instrumentalizados pelo poder. Aliás, esta bomba do poder marca o ponto mais baixo da autoridade do Estado.

– Os incidentes numa manifestação de apoio ao VI Governo realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa, no dia 9, em que se notabiliza o primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo com expressões como “O povo é sereno”, “Não tem perigo, é só fumaça”.

– O cerco à Constituinte no dia 12 por operários da construção civil, que durou até ao fim da manhã do dia seguinte, motivados pelas negociações em torno do contrato coletivo de trabalho do setor, mas envolvidos por uma intenção de natureza política mais vasta.

– A manifestação dos trabalhadores da cintura industrial de Lisboa, no dia 16, em apoio do poder popular, convocada pelo PCP e pela Frente Unitária Revolucionária (FUR), com participação de trabalhadores do Alentejo.

– As ameaças de transferência da Assembleia Constituinte para o Porto no dia 17, na sequência de outras tentativas de transferência de poderes para o Norte, em especial apoiados pelo PS e por Mário Soares.

– A auto-suspensão do VI Governo no dia 19, episódio único, mas de significativa repercussão política, num período de grande agitação.

– O abandono da base de Tancos por 123 oficiais, em protesto pela situação de grande tensão militar no interior da Base, e em apoio às medidas do chefe do Estado-maior da Força Aérea, Morais da Silva;

– A determinação de Morais e Silva de passar os paraquedistas à disponibilidade, conhecida no dia 19, a que estes não obedecem, sendo apoiados por Otelo Saraiva de Carvalho, ainda comandante do COPCON.

Tudo episódios de grande significado e repercussão, indicadores de um desfecho violento para uma situação insuportável. Os acontecimentos encaminhavam-se para o seu ponto final, para uma mudança de rumo que desse resposta aos múltiplos projetos dos movimentos políticos e sociais, mas que a maior parte da população esperava que fosse ao encontro dos anseios da sociedade portuguesa, em geral. 

Aniceto Afonso
Carlos Matos Gomes
Maria Inácia Rezola

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