Paula Pinho na Escola da Lomba (Campanhã, Porto), Junho de 1974
Paula Pinho tinha 6 anos quando se deu o golpe militar de 25 de Abril. É sobre o “privilégio de ser criança durante a revolução” que nos traz as suas recordações. Memórias de uma escola, a Escola da Lomba, na Campanhã; memórias de uma infância vivida no seio de uma família de seis irmãos; memórias do voto. Memória…
A propósito da fotografia da sua festa na escola, tirada em Junho de 1974, na Escola da Lomba, Paula Pinho lembra os seus colegas e as manhãs e tardes preenchidas com canções:
“Após o 25 de Abril, as músicas que aprendemos mudaram para sempre as nossas vidas.
Esta foto, antecede a música "Somos livres" que a minha turma, na altura na primeira classe, entoou aos quatro ventos. Na foto, eu e o meu colega de carteira Rui Casais.”
Paula recua no tempo para nos falar sobre a sua família:
“Eu e a minha irmã mais nova, nascemos ‘fora do tempo’. No meio de seis irmãos, numa família mesmo sui generis. Cinco anos de diferença entre mim e o meu irmão anterior, fizeram com que nós, quando entramos na escola, os mais velhos já estavam na faculdade.”
“Doidos” com a revolução:
“No anos do 25 de Abril, eu com 6 anos e a Ciza com 4, experimentamos sensações espectaculares.
Morávamos junto à PIDE. No dia 25 de Abril, e nos dias que se seguiram os meus irmãos mais velhos estavam todos "doidos". Os discos proibidos saíram dos esconderijos e passaram a fazer parte da nossa vida…
Com 6 anos, sabia de cor tudo o que era música do Zeca Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco...”
Se os mais novos se perdiam com as músicas, os irmãos mais velhos de Paula empenhavam-se politicamente. Catila veio a pertencer à FEC-ML; ANA à UDP e Nela ao MRPP.
É, sob o ambiente politizado das eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, que Paula recorda esta data:
“’Miúdos da rua’ como éramos criados, corremos tudo o que era mesa de voto. O meu pai, à noite, quando fecharam as mesas, trouxe-nos um voto gigante.”
Para a Paula a escola não mais foi igual. O sorriso da foto diz tudo:
“A professora, deixou de ser Senhora Professora a passou a ser ‘Tia Fatinha’. Desapareceram as ‘réguadas’, a ‘menina dos 5 olhinhos’, as ‘orelhas de burro’... todas as humilhações que anteriormente se tinham como certas quando se ia para a escola. Ir para a escola passou a ser simplesmente fantástico!
As aulas de expressão plástica passaram a ser uma realidade. Barro, plasticina, guache, aguarela, pasta de papel...”
“Uma geração de ‘criativos’ foi o que surgiu de quem teve o privilégio de ser criança durante a revolução.”
INFORMAÇÃO ADICIONAL
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Autor - Relator: Paula Pinho, Filipe Guimarães da Silva
Testemunha - Contador: Paula Pinho
Ocupação à época: Estudante -
Região: Porto
Local: CampanhãData do início da história: Junho de 1974
Data do fim da história: Abril de 1975
DIREITOS E DIVULGAÇÃO -
Entidade detentora de direitos: Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos: Todos os direitos reservados